No inicio do ano de 1968, acompanhei o governador Lourival Baptista a um jogo internacional, no antigo Estádio Estadual de Aracaju, construído pelo então Coronel Djenal Tavares de Queiroz, quando comandava a Policia Militar, usando a mão- de -obra dos presos do Reformatório Penal. Coronel Djenal, foi um grande desportista desde quando comandou, também, o 28º BC, oportunidade que prestigiou o Olímpico, time de valores, quer no futebol de campo quer no futebol de salão da época. O Cel. Djenal foi para a reserva como general. Eleito deputado estadual, seu prestigio facilitou e participou com sua influencia política, de várias eleições na antiga Federação Sergipana de Desportos (FSD), hoje Federação Sergipana de Futebol (FSF), sendo inclusive, acusado de comandar uma oligarquia futebolística, pelo poder concentrado nas suas mãos, elegendo por vários anos presidentes da FSF.
Manoel Cardoso Barreto (o Manuca) e Américo Alves foram os que ficaram mais tempo. Pois é, o governador Lourival Baptista, convidado pelo presidente da FSD, compareceu em uma tarde de domingo a esse jogo amistoso, entre a Seleção de Novos da Argentina e a Seleção Sergipana de Futebol.
Quando se encaminhava para o centro do gramado, para o tradicional chute inicial, uma briga do lado das cabines de rádio, onde Silva Lima voltou a transmitir jogos de futebol (ele era proibido de entrar no Estádio Estadual de Aracaju e comunicava para a radio Liberdade, do segundo andar do prédio em construção, da antiga Faculdade de Química. A proibição era por questões políticas entre PSD e UDN. Quando Lourival assumiu, admitiu a presença de Silva Lima no Estádio).
Nessa caminhada até o centro do gramado eu o acompanhava, quando um cidadão no lado das cabines puxou um revolver, a multidão saiu em disparada, derrubou os alambrados que separavam a torcida do campo de jogo, e só não derrubou o Governador, porque, um forte cordão policial foi formado imediatamente e protegeu Lourival, das pisoteadas da multidão descontrolada e amedrontada.
Após o incidente, conversando, na mesma tarde com desportistas, imprensa e com o presidente Américo Alves, o governador Lourival Baptista anunciou a construção de um novo estádio de futebol, “o mais moderno do Nordeste”, dizia Lourival Baptista.
No outro dia, comentou no Palácio de Veraneio, na Atalaia, logo pela manhã, o incidente ocorrido no estádio, considerando-o “um horror”. Hugo Schimidt, Secretário da Agricultura, presente ao encontro que o Dr. Lourival fazia as suas colocações, sobre as deficiências do antigo estádio de Aracaju e conhecedor das necessidades de um estádio moderno, pois jogava umas peladas no antigo estádio - eu também participava como ponta-direita - queria ser “o pai da criança”, dando entrevistas e exigindo do Governador, a construção de um novo estádio, tentando aparecer e fazer média com a torcida sergipana.
Hugo Schimidt era um amigo do Dr. Lourival, lá da Bahia, com estreitos laços familiares. Não deu outra – Dr. Lourival não gostava de gente de “gogó” afiado. Só ele podia ter. Demitiu Hugo, da secretária e um mês após, constituiu uma Comissão, para construção de estádio de futebol, formada por Paulo Barreto, (presidente) e como membros, José Carvalho, (chefe de gabinete de Hugo, na Agricultura) e se não me engano, Hélio Maranhão. Fez a licitação. A empresa vencedora foi a mesma que construiu o estádio de Feira de Santana, o Jóia da Princesa.
O Estádio Estadual “Lourival Baptista” foi edificado em nove meses e o Governador, toda semana visitava as obras, oportunidade que batia um papo administrativo, com o engenheiro Paulo Barreto de Menezes, garnde profissional, competente, prático e eficiente. O Governador sempre se encontrava com a Comissão na área do Estádio, onde residia Sr. Néo, sogro do atleta Vidal do Sergipe.
Sr. Néo, era o antigo administrador do Estádio de Aracaju, sendo com a construção do Batistão, substituído pelo desportista José Carvalho, constituindo-se assim, no primeiro administrador do Estádio Estadual “Governador Lourival Baptista”.
O povo gosta assim: governo prometeu obra, construa logo. Não tem justificativa para a demora, a não ser incompetência de auxiliares. O Governador Lourival, falava a mesma linguagem do povo e entendia assim, exigia pressa e fiscalizava pessoalmente as obras. O Batistão não foi diferente. Pronto, faltava agora, uma grande inauguração.
Américo Alves tratava da parte da abertura do Estádio em termos de futebol. Amigo do presidente da CBD, (hoje CBF), João Havelange, conseguiu trazer a Seleção Brasileira de Futebol, para o jogo da inauguração, com todos os seus valores, como Félix, Carlos Alberto, Rivelino, Tostão, o sergipano Clodoaldo e o incomparável Rei Pelé, todos sob o comando do comentarista João Saldanha. As “Feras do Saldanha”, como era chamada a Seleção Brasileira, que depois viria a ser tricampeã mundial no México, aí já sob o comando Zagalo. De Feras do Saldanha, passaram a ser “As Formiguinhas do Zagalo”. O adversário era a Seleção Sergipana de Futebol.
O próprio João Havelange esteve presente, sendo recepcionado no aeroporto por Américo Alves, em um dia bastante chuvoso, abrigado na descida do avião com um pequeno guarda-chuva, que deixou o todo poderoso Havelange, quase molhado.
No bonito gramado, com a melhor drenagem da região, o Brasil goleou a Seleção Sergipana por 8 a 2. No setor de imprensa, o responsável foi o jovem e então, cronista esportivo, Carlos Magalhães de Melo, que deu um show de recepção aos grandes nomes da imprensa nacional, que chegaram a Aracaju, para transmissão do jogo entre a Seleção Brasileira x Seleção Sergipana.
Teve até musica oficial da inauguração, composição do jornalista Hugo Costa, na voz de Luiz Gonzaga, Rei do Baião. A letra de Hugo exaltava o Batistão, que tinha salas de aulas para a juventude, depois as salas foram transformadas em sedes das Federações, no Governo Augusto Franco, pelo Secretário de Educação, Antonio Carlos Valadares, atual Senador da Republica.. A música cantada constantemente pelos desportistas e criançada virou sucesso. Gravada em vinil e distribuída nas emissoras rádios era sempre tocada.
Hoje, pouquíssimas pessoas têm o disco. Uma raridade. Mas, alguns ainda se lembram da letra. Pixilinga é um deles, por exemplo, que conhece como ninguém a história do nosso esporte.
No dia da inauguração, a torcida, principalmente o torcedor do interior, chegava ao novo estádio em massa. Desde as 12h00, já tinha gente no Batistão. O inicio do jogo estava marcado para as 21h00 horas. As 20h00 horas, o governador Lourival Baptista chegou ao estádio, acompanhado de autoridades, deputados, lideranças políticas, comandantes militares (época da Revolução de 64) e assessores (eu entre um deles).
A comitiva fez a “volta olímpica”. Lourival foi super aplaudido, por mais de 40 mil torcedores, lotação do dia de inauguração. Todo sorridente e cheio de felicidade, naquela da certeza do dever cumprido. Na volta que fez pelas laterais do gramado, afirmava no meu “pé–do- ouvido”: “veja os aplausos, o povo gostou, isso é muito bom. Realizar obras que o povo quer. Diga ao Santos Santana”. O radialista Santos Santana, dirigia a Rádio Difusora, tinha um programa noticioso todas as manhãs de grande audiência, na Rádio Cultura.
Após o ponta-pé-inicial e as homenagens no centro do gramado, o governador, juntamente com a sua comitiva, deslocou-se para a Tribuna de Honra, onde assistiu ao Brasil ganhar facilmente.. Lourival Baptista granjeou mais ainda notoriedade, entre os desportistas. O presidente da Comissão de Construção do Estádio Lourival Batista, engenheiro Paulo Barreto, foi o seu candidato a Governador e ganhou, sucedendo-o no Governo do Estado de Sergipe.
O Batistão já passou por varias pequenas reformas, hoje, o Governo Déda, já anuncia sua completa reformulação, transformando-o numa arena esportiva das mais modernas do País.
Batistão hoje é quarentão.
Quarenta velinhas, que nunca serão apagadas. Elas sempre iluminaram e iluminarão o nosso futebol.
Parabéns Estádio Lourival Batistão!!! O povo sergipano merece!!!
Por Leó Filho (foto) Jornalista e Radialista
Fonte: Adel Ribeiro